Inteligência Artificial e Pensamento
Diego Zilio
Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (1): 208-218 © Ciências & Cognição
A proposta de Turing e a gênese da ciência cognitiva clássica
A primeira sentença do texto “Computing Machinery and Intelligence”, de Alan Turing (1950), é um convite à reflexão. O tema proposto é precisamente delimitado em sua questão primordial: “podem as máquinas pensar?” (p. 433). Com a questão posta, faltava apenas uma definição clara dos termos envolvidos. O que é “máquina”? O que é “pensamento”? Turing logo se deu conta de que esses são termos perigosos, pois há uma gama enorme de significados que os acompanha, o que acabaria por dificultar uma definição precisa. Com esse problema em mãos, o autor encontrou uma resposta no “jogo da imitação”. A versão “humana” do jogo seria assim: um participante faria perguntas a outros dois participantes sem poder vê-los e sem ter acesso direto às suas respostas, sendo essas apresentadas por um mediador. Ambos os participantes deveriam convencer com suas respostas serem mulheres. Dessa forma, o homem deveria persuadir quem fizesse as perguntas enquanto a mulher deveria provar que, de fato, ela é a mulher. O intuito do jogo seria descobrir qual dentre os dois participantes é o homem e, conseqüentemente, qual é a mulher. Turing, então, muda as regras do jogo colocando uma máquina no lugar de um desses participantes. Nessa nova situação, o objetivo seria descobrir qual, dentre os dois participantes, seria o ser humano e qual seria a máquina. Se conseguir agir por meio de suas respostas tal como um ser humano sem que o participante que faz as perguntas perceba, essa máquina seria considerada inteligente e, por consequência, um ser pensante. É importante ressaltar, todavia, que de maneira alguma Turing partiu do pressuposto de que os homens pensariam de maneira diferente se comparados às mulheres. Esse problema não era de seu interesse. O jogo