Insularidade
As condições climáticas ruins e os limites geográficos impostos pela insularidade participam ativamente da literatura do arquipélago, o que é constatado em diversos autores. O desejo de evasão aparece diante de tantos transtornos e dificuldades às quais o povo cabo-verdiano é obrigado a suportar, sendo assim há uma busca pela fuga através do sonho. Dina Salústio, relaciona a insularidade principalmente com a presença do mar nas ilhas, este mar que representa contrastes, pois está ligado a um aprisionamento/isolamento, mas ao mesmo tempo conduz a uma sensação de que existe um mundo além. Um mar que causa um desassossego exterior e interior, sendo retratado pelo poeta como uma forma de denunciar os efeitos dessa insularidade. As ilhas que formam Cabo Verde contêm em si dicotomias espaciais. Enquanto remetem-nos a ideia de “abertura”, também “isolam”; se suscitam uma sensação de “interioridade”, também nos remetem ao mundo “do lado de fora” e se existe um “aqui”, não é difícil remeter-se a um “além”. A angústia diante da imensidão do mar isola o ilhéu no espaço sempre igual e parado, por isso a curiosidade pelo que é estrangeiro. Há o recorrente drama da partida e do regresso ligado a uma promessa de felicidade na ida para um outro lugar ou na volta para as ilhas. O cabo-verdiano é acuado, empurrado para fora de sua terra pela pobreza, pela fome, pelos castigos impostos pelo clima seco e escasso de chuvas. De outro lado, a vontade de deixar Cabo Verde pode partir do drama de “querer partir e ter de ficar”. Nesse caso, os próprios poetas se consomem pela ânsia de correr o mundo, sem que lhe sejam impostas concretudes que impeçam sua vida no arquipélago, pois o indivíduo tem receio de perder as amarras que os ligam as ilhas. Ao pensar o mundo, essa vertente da insularidade dá à literatura uma relação com outros lugares.