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Chico já tinha duas canções censuradas: “Cálice” e “Apesar de você”. Para não correr o risco de ter mais uma música presa na rede do sistema repressivo veio a idéia de criar “Julinho de Adelaide “.
Julinho na verdade era um pseudônimo criado pelo cantor na tentativa de enganar os agentes da censura. A música “Acorda amor” foi sua primeira tentativa. E deu certo.
Foram poucas letras que “Julinho” conseguiu escrever e obter a permissão dos censores. Mas uma reportagem de um jornal da época, flagrou a farsa do cantor.
É, depois daquelas tentativas, ficou muito mais difícil encarar “os homens”. A partir deste fato passou a ser necessária a apresentação de um documento de identidade dos compositores acompanhando a letra da música.
A letra de “Acorda Amor” retrata a cara da Ditadura. A sirene da polícia, os barulhos no portão… os passos na escada. Parecia pesadelo, mas foi assim que muitos homens e mulheres sumiram durante aquela época, principalmente em 1968, depois que o AI-5 passou a vigorar.
“Chame, chame, chame o ladrão” canta Chico. Um verdadeiro deboche de quem não confiava mais nem na polícia.
Em uma das partes mais emocionantes, Julinho de Adelaide, na frente do grande poeta Chico, pede: “depois de um ano eu não vindo ponha roupa de domingo e pode me esquecer”.
Muita gente ainda espera seus irmãos, amigos, namorados que ainda não voltaram…
ACORDA AMOR
Composição: Leonel Paiva/Julinho da Adelaide
Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão,