Infância perdida para o crime
“Aprendi uma coisa: o crime não compensa. Os que estão aqui, como eu, querem mudar de vida. Esse negócio de que foi levado ao erro por influência de amigos não cola mais”.
O ‘papo reto’ dado por um dos internos do Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente de São Gonçalo (Criaad-SG), na Estrela do Norte – unidade de semiliberdade que oferece medidas socioeducativas para menores que cometeram atos infracionais – aponta para uma triste realidade que atinge os municípios de Niterói, São Gonçalo e Maricá: o aumento no número de adolescentes envolvidos com o crime.
De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), nos seis primeiros meses desse ano houve um aumento de 41% na apreensão de menores na chamada Grande Niterói – área de abrangência dos três municípios – em relação ao mesmo período de 2009. Apenas em Niterói, 192 adolescentes foram apreendidos pelas polícias Civil e Militar – 64 a mais do que ano passado, representando um aumento de 168%.
O reflexo desses números está no próprio Criaad-SG, que opera com sua capacidade máxima (32 adolescentes), e no Centro de Atendimento Intensivo de Belford Roxo (Cai-Baixada), onde 70 % dos internos foram apreendidos em São Gonçalo.
Segundo o juiz Pedro Henrique Alves, da Vara da Infância, Juventude e do Idoso de São Gonçalo, 95% dos atos infracionais cometidos pelos menores da região estão direta ou indiretamente relacionados ao tráfico de drogas.
“O adolescente vê a figura do traficante como a de um ídolo. A sensação efêmera de poder dá a eles o acesso à roupas de marcas e prestígio entre as mulheres. Tudo isso associado à falta de oportunidade e, principalmente, ao enfraquecimento da estrutura familiar pode acarretar no cometimento de crimes”, explica o magistrado.
Desconstruir esse referencial é um dos principais desafios das equipes técnicas que trabalham nas unidades do Departamento Geral de Ações