Pena de Morte

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PENA DE MORTE

Para Freud, as pulsões humanas são, em última instância, conservadoras: elas se voltam basicamente para o passado, tentando reeditá-lo - ou reproduzi-lo. Esta vocação conservadora, pela qual as pulsões tendem a restaurar - além do princípio do prazer - um estado anterior de coisas, constitui a mola mestra da compulsão à repetição, a cujo poder está sujeito o funcionamento psíquico. De acordo com o criador da psicanálise, somos todos - no fundo - passadistas inveterados. A evolução nos empurra para a frente e nós, a contragosto, avançamos, tangidos pela necessidade ou - quem sabe? - pelo tédio à controvérsia. O mais profundo desejo do ser humano é, em escala - ou escada - decrescente, a volta à infância, à vida intra-uterina e, por fim, à condição inorgânica, ou mineral. Temos saudade de ser pó, do qual saímos, ou de ser pedra, osso desnudo - silêncio.
Na presente cena política brasileira, o ex-presidente Jânio Quadros é um excelente - e freudiano - exemplo de obediência à compulsão de repetição. Ao candidatar-se à prefeitura de São Paulo, com as momices, cacoetes e obliqüidades pronominais da praxe, o Sr. Jânio Quadros é menos um postulante a um cargo eletivo do que oficiante de Tanatos, ocupado - e preocupado - em exumar tempos velhos, para servir ao perempto. E, como se não bastasse a celebração tanática a que se entrega, pelos bairros, vielas e betesgas da capital paulista, em busca da edilidade perdida, o candidato do PTB anuncia ainda, como prato de seu rancho de campanha, a pena de morte. É claro que, do castigo máximo, ficam excluídos os crimes políticos - renúncia fraudulenta, em primeiro lugar -, nas suas dimensões presentes, passadas e futuras. O ex-presidente sabe cuidar da própria pele.
A pena de morte, não obstante os esgares e contorcionismos ideológicos que a queiram legitimar, é um crime contra a justiça - e contra o esforço civilizatório da raça humana. Humanizar-se - ou hominizar-se - é poder suprimir ou sublimar os impulsos

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