reflexão em forma de perguntas texto de welington cancado
509 palavras
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Bente altas, queimada, rolimã, futebol, pipa, pique-esconde: jogos e brincadeiras de rua. Todos extintos com a extinção da própria rua. Afinal, depois de tanto “matar a rua” ao longo do século 20 parece que finalmente conseguimos o que queria Le Corbusier, aquele arquiteto franco-suíço que queria também demolir a Île de la Cité em Paris onde se encontra a Notre Dame para ali erguer a sua “Cidade Radiosa”, uma espécie de Barra da Tijuca primordial. Mas não é que a rua propriamente dita tenha desaparecido, afinal todos os dias somos surpreendidos por outdoors propagando a duplicação e o alargamento das vias por toda a cidade. O que desapareceu mesmo, foi a possibilidade da rua como lugar do ócio, do encontro, das brincadeiras, dos jogos e da festa. Desapareceu a rua como lugar privilegiado da infância, ou de infâncias privilegiadas. Aquela infância dos nossos pais nas florescentes porém ainda humanas capitais, mas também a rua das crianças dos interiores por todo o país. Ruas em que crianças passavam as noites jogando e brincando, em que os portões eram gol, que a calçada era pista, que o degrau era rampa, que o muro era esconderijo, que a árvore era desafio, que o lixo era brinquedo, que o asfalto era campo, que os carros eram raros. Pois, as razões desse fato histórico são óbvias: o crescente aumento da frota de veículos sustentada por políticas públicas tardo-desenvolvimentistas equivocadas (vide Linha Verde em Belo Horizonte, duplicação da Marginal em São Paulo e a recente redução de IPI dos automóveis) corroboradas pela gradual e covarde substituição por parte da classe-média urbana de todas as esferas do público por soluções imediatistas e privatistas: o SUS pela Unimed, o grupo escolar pela escola particular, o ônibus pelo “zero quilômetro”, a polícia pelo vigia de plantão, o mercado pelo shopping, o buteco pela praça de alimentação, o bairro pelo subúrbio militarizado, a praça pelo clube da moda, e claro a rua pelo condomínio e seus indefectíveis