Inflação 1994 a 2013
Lembro como se fosse ontem: eu, com uns 9 ou 10 anos de idade, na cantina do colégio, comprando um sanduíche por algo em torno de um milhão – não me pergunte de que moeda. Com 9 ou 10 anos (1990-1991), estiveram em vigor no país o cruzado novo e o cruzeiro, e foram tantas as trocas de moeda de minha infância que eu não consigo me lembrar qual era a oficial. Na minha memória, eram Cruzados. Mas a cédula que eu lembro era essa aqui:
C34f
Veja bem: eu disse um milhão.
Você, se não viveu essa época, deve estar pensando: “Fábio, seu cego! Lá está escrito ‘dez mil Cruzados’!”. Mas olhe com atenção para o carimbo do Banco Central: lê-se 10 Cruzados Novos. O que aconteceu? Houve a mudança de moeda em 1989, mas o Banco Central reaproveitou as cédulas antigas, apenas carimbando-a com o valor em Cruzados Novos. Note bem que apenas cortaram os “três zeros”, prática comum naquele período. O que era 10.000 virou 10. E, na prática, era 1 milhão, porque era com uma nota dessas que eu comprava o lanche da escola, e ele chegou a custar essa cifra absurda.
Só não lembro direito qual era a moeda. Mas a culpa não é da memória fraca. Entre 1986 e 1993, o país teve 5 moedas diferentes – Cruzeiro (entre 1970 e 1986), Cruzado (1986-1989), Cruzado Novo (1989-1990), Cruzeiro (1990-1993) e Cruzeiro Real (1993-1994). Todas produto de tentativas frustradas de combater a inflação, tão absurda que era simplesmente impossível as máquinas do Banco Central imprimirem cédulas que expressassem o valor corrente do dinheiro. Fazia-se mágica: lá pelas tantas, o governo anunciava um corte de três zeros. Depois, saia uma decisão administrativa dizendo que “onde se lê Dez Mil Cruzados, deve-se ler Um milhão de cruzados”. E por aí vai.
Isso tudo levava a população à paranóia. Você recebia o salário em um dia e já tinha que encher o tanque do carro e fazer a compra do mês, porque no dia seguinte o dinheiro já valia muito menos. Era