Uma primeira observação a ser feita é sobre as diferenças existentes entre uma sociedade e outra, e como estas produzem indivíduos diferentes. Cada sociedade tem sua própria construção cultural, que vai se valer dos inúmeros aspectos temperamentais e comportamentais do ser humano, além das diferenças físicas observáveis como idade, sexo e parentesco consanguíneo, para modelar os padrões a serem seguidos, tanto no que se refere a costumes, vestimentas, papeis e classes sociais, até mesmo à própria fabricação da subjetividade. Ou seja, "trabalhando com novelos tão simples e tão universais como esses, o homem construiu para si mesmo uma trama de cultura em cujo interior cada vida humana foi dignificada pela forma e pelo significado. O homem não se tornou simplesmente um dos animais que se acasalavam, lutavam por seu alimento e morriam, mas um ser humano com um nome, uma posição e um deus" (Mead, 2000, p. 20). No que se refere aos deuses, podemos dizer que a religiosidade em si é uma forma de assegurar valor metafísico e até mesmo sagrado à noção de pessoa, como aponta Mauss (1974), se referindo ao cristianismo. Mas antes disso, a própria noção de pessoa precisou ser construída. Em seu texto O Sujeito: A Pessoa, presente no livro Sociologia e Antropologia de 1974, Mauss mostra, a partir de determinadas pesquisas, como a subjetividade humana foi sendo moldada ao longo da história, passando de um personagem ou título que nada mais era a não ser um papel social na totalidade de seu grupo e, logo, que não existia fora deste, a uma representação de uma função social e ancestralidade identificada no nome; disso a um nome perene que lhe constitui personalidade própria, a um indivíduo; deste a um ser com valor moral que é consciente e autônomo e mais que um elemento de organização; então a um ser metafísico e sagrado. A partir do século XVIII, outras questões surgiram acerca do livre-arbítrio e razão da alma humana, sendo esta elemento fundamental do pensamento e da