Imunologia
A ciência pode ser concebida como a atividade humana que tem na (tentativa de) descrição da realidade um dos aspectos cruciais do seu saber-fazer1. De fato, a atividade científica diz respeito ao
[...] conjunto de conhecimentos e de pesquisas com grau suficiente de unidade e generalidade, suscetíveis de levar [...] a conclusões concordantes que não resultam de convenções arbitrárias nem de gostos ou interesses individuais [...] mas, sim, de relações objetivas que se descobrem gradualmente e que se confirmam por métodos de verificação definidos. (p.278)2
Entre as diferentes perspectivas de concepção dos processos de construção histórica da ciência está a ideia de descontinuidades/rupturas entre suas teorias e seus métodos, como proposto por Thomas Kuhn no conceito de paradigma3, âmbito no qual se consubstanciam "realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes". (Kuhn3 2006)
Nestes termos, o paradigma representa uma matriz disciplinar, composta por teorias, leis, técnicas e hipóteses, a qual subjaz à atividade de pesquisa científica, norteando-a e legitimando-a.
A Imunologia, como disciplina científica, tem se constituído em torno de um paradigma caracterizável como predominantemente "marcial", "belicoso" ou "beligerante", segundo o qual as interações hospedeiro-microrganismo são vistas segundo uma concepção de processos de ataque-defesa - ou seja, uma narrativa sobre a guerra inter e intraorganismos -, em que se estabelecem os termos de um discurso capazes de constituir uma genuína cosmovisão:
Os vocabulários nunca são neutros. As coisas que são incluídas em um vocabulário passam a compor uma realidade familiar; aquelas que são deixadas de fora são ignoradas ou chegam a ter a sua existência negada. Além disso, um vocabulário oferece uma versão de como o mundo funciona e por quê. (p. 70-71)4
Tais ideias têm impacto nos âmbitos