Impressões sobre o prazer do texto
O contra-herói: A linguagem jornalística, a linguagem literária, a descritiva, a poética. O leitor está diante de múltiplas linguagens, eliminando "barreiras, classes, exclusões": isso cria o prazer. "quem suporta, sem nenhuma vergonha, a contradição?" O contra-herói de que falamos acorda de manhã e lê a bula de seu remédio para diabetes. Em seguida, toma seu café - sem açúcar - enquanto lê seu jornal. Parte para o trabalho e no caminho lê uma crônica de seu autor preferido. Ele é um contra-herói porque consegue unir uma linguagem descritiva e uma poética; ele suporta, sem barreiras, classes ou exclusões, diferentes tipos de textos. Ele está, dessa forma, se entregando a seu prazer.
É imprescindível que o escritor procure o leitor, mas este não procura a "pessoa" e sim a possibilidade de uma conexão entre os dois (busca ser lido). Assim se cria um "espaço de fruição" (uma quem-sabe fruição de uma oportunidade). É o jogo escritor-leitor. O escritor não escreve para o leitor, ele escreve para um "campo". Até a inclusão do leitor nesse processo, o texto é frígido, pois ele só se transforma em desejo;prazer (neurose), a partir do leitor, independentemente do escritor escrever no prazer ou não. "A neurose é a única que permite escrever (e ler)" Se um texto quer ser lido, é necesário uma mínima dose de neurose (nervo anormal) A prova de que o texto deseja o leitor é que a própria escritura já a "ciência das fruições da linguagem"' O prazer busca o lugar de perde, a fenda entre as duas margens Um texto escrito desconstruindo toda a estrutura da linguagem ao mesmo tempo se utiliza desta mesma estrutura da qual critica. Uma margem bate com a outra. O prazer está entre essas duas coisas. Fazendo uma analogia entre o prazer do texto e o prazer do corpo, considerando que o prazer busca a fenda entre duas margens, é que a intermitência que é erótica: a alternância entre o aparecimento-desaparecimento da pele, dos seios.