Ilhas
Que Vénus pelas ondas lha levava[...] Três soberbos outeiros se mostravam,
Erguidos com soberba graciosa,
Que de gramínio estmalte se adornavam,
Na formosa Ilha, alegre e deleitosa.
Claras fontes e límpidas manavam
Do cume, que a verdura tem viçosa;
Por entre pedras alvas se deriva
A sonorosa linfa fugitiva.
Num vale ameno, que os outeiros fende,
Vinham as claras águas ajuntar-se,
Onde ũa mesa fazem, que se estende
Tão bela quanto pode imaginar-se.
Arvoredo gentil sobre ela pende,
Como que pronto está para afeitar-se,
Vendo-se no cristal resplandecente,
Que em si o está pintando propriamente.
Mil árvores estão ao céu subindo,
Com pomos odoríferos e belos;
A laranjeira tem no fruto lindo
A cor que tinha Dafne nos cabelos.
Encosta-se no chão, que está caindo,
A cidreira coos pesos amarelos;
Os formosos limões ali cheirando,
Estão virgínias tetas imitando.
Os dons que dá Pomona ali Natura
Produze, diferentes nos sabores,
Sem ter necessidade de cultura,
Que sem elas se dão muito melhores:
As cerejas, purpúreas na pintura,
As amoras, que o nome tem de amores,
O pomo que da Pátria pérsia veio,
Melhor tornado no terreno alheio.
Abre a romã, mostrando a rubicunda
Cor, com que tu, rubi, teu preço perdes;
Entre os braços do ulmeiro está a jucunda
Vide, cuns cachos roxos e outros verdes;
E vós, se na vossa árvore fecunda,
Péras piramidais, viver quiserdes,
Entregai-vos ao dano que cos bicos
Em vós fazem os pássaros inicos.
Ao longo da água o nívio cisne canta,
Responde-lhe do ramo Filomena[...]
Nesta frescura tal desembarcavam
Já das naus os segundos Argonautas,
Onde pela floresta se deixavam
Andar as belas Deusas, como incautas.[...] Oh! Que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Melhor