IDEOLOGIA E POESIA DE IMIGRAÇÃO (a Construção do Teuto-brasileiro Através da Poesia)
(a Construção do Teuto-brasileiro Através da Poesia)
Marcelo de Brito Steil
De um modo geral o ato imigratório ocasiona profundos reflexos no imaginário do imigrante, decorrente do amplo corte que o fato encerra em praticamente todas as esferas de sua vida. A existência individual é então dividida em duas etapas: antes e depois do desterro. As contradições entre os dois mundos: o que abandonou a contragosto, onde repousa seu passado, alçado somente pela memória e pela saudade; e o que se estabelece cercado de dúvidas e dificuldades, porém sob o signo da esperança, acarretam no imigrado uma reorganização de seus valores, pois exposto às mudanças do cotidiano, as formas de produção, os padrões de alimentação, habitação, vestuário, fatores ligados ao clima, as leis que o regem, entre outros, somados aos contatos inter-étnicos afetam a concepção de mundo do imigrante.
Neste contexto, a poesia, que na época da grande onda emigratória européia, entre meados do século XIX e início do XX, sob a ótica do romantismo, era compreendida como reflexo da alma e amplamente utilizada na construção simbólica dos estados nacionais, é severamente afetada neste processo, chegando a alguns autores como Werner Aulich, falarem em uma literatura específica, motivada pelo pathos da imigração.
Mais que isso, a produção poética que ora nos propomos a estudar, a produzida pelos imigrantes alemães e seus primeiros descendentes no sul do Brasil, além do ato imigratório, integrou ainda o processo colonizador, baseado na pequena propriedade rural e na agricultura familiar. Assentados em grupos ou em glebas afastadas, estabeleceram inicialmente pouco contato com os nativos, criando assim condições de uma certa sobrevida em alguns aspectos de sua visão de mundo, possibilitado principalmente pela manutenção da língua alemã, pelo sistema escolar, pela igreja, pelo acesso a informação, e ainda pelo sistema de comércio que escoava a produção, a maioria