Há cinco minutos das Carlotas da vida
Cinco minutos é o tempo que o narrador-personagem se atrasa, para pegar o ônibus de Andaraí. Este atraso leva-o a conhecer Carlota, uma mulher por quem se apaixona sem ver seu rosto, só ouvindo sua voz, sentindo o toque de seu braço e seu perfume. Cinco minutos é, portanto, um romance em que o canal da afetividade masculina, comumente visual, alterna para auditivo, tátil e olfativo, ao menos nos cinco primeiros capítulos. E, como em todo contato privado do canal visual, o narrador em 1ª pessoa também cogita a hipótese de a mulher estar fora dos padrões de amabilidade romântica ('De repente veio-me uma idéia. Se fosse feia! se fosse velha! se fosse uma e outra coisa!').
Há o tempo da narrativa que, pela estrutura do texto, pode confundir-se com o tempo da leitura, isto é, o momento em que você, leitor, aprecia o romance. Pois em 'Cinco minutos', o narrador-personagem conta a história de seu casamento com Carlota a uma prima. E há o tempo do enredo, ou seja, o tempo em que a história se passa, há mais de dois anos do tempo da narrativa, que tem como pano de fundo o Rio de Janeiro do começo do século XIX.
No capítulo V, depois de uma longa conversa com sua amada, em que ela quase lhe revela não poder se unirem, a fim de não sofrerem com a iminente morte dela, ele finalmente consegue vê-la. Carlota revela estar mortalmente doente. Por isso, está se privando de viver o amor, apenas para evitar os sofrimentos subjacentes à separação definitiva. Ele a persegue até o lugar onde ela vai embarcar para a Europa e, perdendo o navio como perdera o ônibus no começo da narrativa, toma o próximo. É interessante notar como o 'defeito' (atraso) do personagem é responsável por sua felicidade definitiva, tanto no começo quanto no final da história, pois são seus atrasos que o aproximam de sua amada. Na Europa, encontra-se com Carlota e dá-lhe um beijo que a leva à cura de sua doença mortal. Eles se casam e permanecem na Europa por um ano,