Homo ignobilis
Circulam frequentemente pela internet listas de atrocidades linguísticas cometidas por estudantes em exames vestibulares. Há alguns anos, uma safra auspiciosa, embalada por questões ambientais, produziu impagáveis reflexões sobre a “dificuldade de achar os pandas na Amazônia”, a “extinção do micro-leão dourado” e a poluição das “bacias esferográficas”. Muito antes de Al Gore, nossos jovens já haviam chegado à conclusão de que a questão ambiental “é um problema de muita gravidez” e que, para resolvê-lo, não se deve preservar “apenas o meio ambiente, e sim todo ele”. Em suma, como bem sumariou um luminar: “Vamos deixar de sermos egoístas e pensarmos um pouco em nós mesmos”. Sejam verdadeiras ou apenas fruto de algum malicioso bem-humorado, o fato é que tais pérolas bem representam a condição educacional das hordas locais.
Diante de tais manifestações de “exuberância intelectual”, conservadores e nostálgicos costumam deplorar a degradação do ensino público e relembrar momentos passados, não tão soturnos, da educação pindoramense. Os lamentadores bem poderiam se associar aos vizinhos do Norte. Lá, como cá, a tendência para a lamúria é perene, a cruzar gerações e a produzir reflexões e provocações.
Em 1963, Richard Hofstadter publicou sua seminal obra Anti-intellectualism in American Life, relacionando a tendência antiintelectual da sociedade à ação dos religiosos, dos políticos e dos empresários. Segundo o autor, tais atores envolvem sua retórica com conceitos como moralidade, democracia, utilidade e praticidade para fomentar nos indivíduos desconfiança e ressentimento contra o mundo da mente e a vida intelectual.
Allan David Bloom lançou, em 1987, Closing of the American Mind. A obra trazia uma crítica da universidade contemporânea e da sociedade centrada no interesse individual. Bloom lamentava a desvalorização dos grandes livros do pensamento ocidental e a emergência de uma cultura popular que embalava os novos estudantes, incapazes de buscar