Homo ignobilis

793 palavras 4 páginas
Homo ignobilis

Circulam frequentemente pela internet listas de atrocidades linguísticas cometidas por estudantes em exames vestibulares. Há alguns anos, uma safra auspiciosa, embalada por questões ambientais, produziu impagáveis reflexões sobre a “dificuldade de achar os pandas na Amazônia”, a “extinção do micro-leão dourado” e a poluição das “bacias esferográficas”. Muito antes de Al Gore, nossos jovens já haviam chegado à conclusão de que a questão ambiental “é um problema de muita gravidez” e que, para resolvê-lo, não se deve preservar “apenas o meio ambiente, e sim todo ele”. Em suma, como bem sumariou um luminar: “Vamos deixar de sermos egoístas e pensarmos um pouco em nós mesmos”. Sejam verdadeiras ou apenas fruto de algum malicioso bem-humorado, o fato é que tais pérolas bem representam a condição educacional das hordas locais.
Diante de tais manifestações de “exuberância intelectual”, conservadores e nostálgicos costumam deplorar a degradação do ensino público e relembrar momentos passados, não tão soturnos, da educação pindoramense. Os lamentadores bem poderiam se associar aos vizinhos do Norte. Lá, como cá, a tendência para a lamúria é perene, a cruzar gerações e a produzir reflexões e provocações.
Em 1963, Richard Hofstadter publicou sua seminal obra Anti-intellectualism in American Life, relacionando a tendência antiintelectual da sociedade à ação dos religiosos, dos políticos e dos empresários. Segundo o autor, tais atores envolvem sua retórica com conceitos como moralidade, democracia, utilidade e praticidade para fomentar nos indivíduos desconfiança e ressentimento contra o mundo da mente e a vida intelectual.
Allan David Bloom lançou, em 1987, Closing of the American Mind. A obra trazia uma crítica da universidade contemporânea e da sociedade centrada no interesse individual. Bloom lamentava a desvalorização dos grandes livros do pensamento ocidental e a emergência de uma cultura popular que embalava os novos estudantes, incapazes de buscar

Relacionados

  • sociologia
    59634 palavras | 239 páginas
  • plantas fungos vol1
    523561 palavras | 2095 páginas