História e História Cultural
Fragmentos do discurso cultural: por uma análise crítica das categorias e conceitos que embasam o discurso sobre a cultura no Brasil
Durval Muniz de Albuquerque Júnior
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Quando analisamos os discursos em torno da temática da cultura no Brasil, sejam aqueles proferidos pelos intelectuais que tratam da questão como objeto de pesquisa, sejam aqueles emitidos pelos chamados agentes da cultura: artistas, promotores culturais, membros de organizações da sociedade civil ligadas a produção cultural, podemos encontrar o uso recorrente de alguns conceitos ou categorias que demonstram como este tema vem sendo pensado majoritariamente em nosso país. Independente, inclusive, dos esforços feitos pelos documentos oficiais do Ministério da Cultura, nesta atual gestão, no sentido de mudar o vocabulário e, portanto, alterar as concepções que embasam os discursos e as práticas em torno da questão da cultura brasileira e independente de uma vasta produção acadêmica, no Brasil e no exterior, que vêm propondo um novo vocabulário e novas formulações conceituais para esta questão, o que vemos e ouvimos é a repetição de falas e a realização de práticas que giram em torno de alguns conceitos bastante recorrentes, que todos parecem entender da mesma forma, que não precisam mais de explicação, por serem óbvios e, por isso, todo mundo estaria de acordo sobre seus significados. O mais recorrente deles é sem dúvida o de identidade. Não se poderia pensar cultura sem imediatamente remetê-la para o campo da produção das identidades: sejam das identidades nacionais, regionais, étnicas, de gênero, de classe, etc. Discutirei mais detidamente o assunto mais adiante porque, antes, quero mostrar que mesmo quando não se fala diretamente da questão da identidade, e até quando se quer fugir dela, os discursos em torno da cultura recorrem constantemente a uma série de noções, sem que
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