História e alienação em Marx
por Vinícius dos Santos
Falar de razão e história em Marx é falar da totalidade de um pensamento que, através da conjunção de domínios do Saber relativamente autônomos (filosofia, história, sociologia, economia, política etc.), visa construir um ambicioso sistema cuja meta é apreender sinteticamente a totalidade do real em suas múltiplas determinações, isto é, desde a pluralidade concreta de suas manifestações.
O núcleo deste sistema1 é o conceito de alienação2. Sua análise revela não apenas como Marx pensa a História, mas, igualmente, como ele a projeta. O pensamento marxiano, de fato, visa não apenas de compreender o passado, mas fundamentalmente de esclarecer o presente com vistas à transformação do futuro.
O trajeto intelectual de Marx é caracterizado por uma passagem da crítica filosófica (a Hegel) à crítica da própria Filosofia. Neste movimento, Marx desenvolve sua teoria social, o materialismo histórico, cuja primeira grande formulação autônoma se daria em A ideologia alemã, em 1845/1846. Não obstante, desde seus primeiros escritos, sua visão de mundo se deixa transparecer em constante gestação. É no cenário de crítica e superação de Hegel que se explica a definição marxista de alienação.
Antes de tudo, convém observar que o materialismo marxista não apenas inverte o idealismo de Hegel, como se supõe em geral, mas visa incorporá-lo naquilo que ele tem de real como momento de uma história calcada não mais no movimento de reconciliação do Espírito consigo mesmo, mas na práxis humana. Nesse sentido, é preciso primeiramente indicar que, em Hegel, a verdade é a verdade do todo, ao qual cada elemento singular está intrinsecamente ligado, de tal modo que essa verdade, isto é, a própria Razão, exprime-se em cada particularidade. Por conseguinte, se algo não pode ser incluído no processo da Razão, ou seja, se algum elemento escapa ao movimento de realização de seu conceito (reconciliação do Espírito consigo mesmo, supressão das