História da matematização da natureza
Acontece porém que o cristianismo não foi fundado por filósofos, mas por homens simples e crédulos. Assim, quando se tornou necessário consubstanciar a fé cristã num corpo de doutrinas coerentemente elaborado, os padres da Igreja passaram a reinterpretar os princípios da épisteme theoretike em termos de um Deus único, eterno, perfeito e verdadeiro, governando uma natureza precária. Tal fato foi possível talvez justamente porque os filósofos gregos estavam já dominados - como muito bem o demonstrou Werner Jaeger (1) - pela crença em uma divindade única, permanente e coerente (to theon). Foi essa crença que tornou possível a compreensão da physis como algo inteligível. Conseqüentemente, as filosofias de Platão e de Aristóteles prestaram-se à reinterpretação cristã monoteísta da teoria grega sem deformá-la radicalmente.
Em suma, o pensamento teórico consiste em ver que por detrás das aparências cambiantes do mundo há uma realidade idêntica a si mesma, não-contraditória e verdadeira, ou falsa, não admitindo meio termo entre a verdade e a falsidade. É o que nos ensina o poema de Parmênides. Essa nova forma de pensar, inventada por gregos no século vi antes de Cristo, foi transferida ao mundo ocidental moderno, através da Idade Média, justamente pela Teologia - a teoria de Deus - baseada na re-interpretação dos princípios da épisteme theoretike. É verdade que com a derrocada do mundo antigo os