Desde que o homem começou a empreender esforços no sentido de compreender racionalmente a Arte, seja a de sua época ou a de outras épocas, têm sido elaboradas categorias e conceitos que, de um modo ou de outro, são quase sempre redutores e generalizadores. Por diversas razões, os conceitos estabelecidos racionalmente freqüentemente incorrem em limitações. Em primeiro lugar, porque a Arte possui também um aspecto “não-racionalizável”: ela é também o território do intuitivo, do espontâneo, do surpreendente, da transgressão de normas estabelecidas. Assim, nem mesmo o mais completo sistema de categorias racionais pode aspirar a compreender a arte em sua totalidade, pois sempre restará aquela dimensão da obra artística que não é passível de ser compreendida conceitualmente. Em segundo lugar, qualquer sistema de categorias e conceitos – bem como qualquer modelo de racionalização – é, em última instância, histórico. Vale dizer, qualquer perspectiva do homem sobre o próprio homem é antes de mais nada produto de sua época e de seu ambiente cultural, e se transforma continuamente através de sua passagem pelo tempo. Assim sendo, o olhar do homem de determinada localidade e época histórica sobre a arte de seu tempo ou de períodos anteriores é sempre apenas um dos “olhares” possíveis – sem esquecer que uma mesma comunidade de pensadores pode dar origem a perspectivas interpretativas mais ou menos diversificadas sobre um mesmo objeto de estudo. Dito de outra forma, nenhum conceito ou categoria de análise pode aspirar a ser absoluto. Por fim, resta acrescentar que nenhum artista se reduz rigorosamente ao “padrão de excelência” de sua época, havendo mesmo os que criam os seus próprios padrões individuais e se afastam em menor ou maior grau da concepção oficial de arte do seu tempo. Exemplos notáveis disto são os pintores renascentistas Hieronymus Bosch (c.1450 – c.1516) e Pieter Bruegel, o Velho (1525 – 1569), cada qual desenvolvendo um estilo surpreendentemente singular