A história em crise Mas, quando falamos da crise da história, algúns podem estar pensando, também com razâo, que há quem creia e quem nâo creia em crise da história. Contudo, nossa disciplina vive sua crise independentemente do grau de conhecimento que cada colega tenha dela. Quando, em outubro de 1917, explodiu a revoluçâo na Rússia czarisa, podia haver pessoas que nâo estivessem fazendo nada, enquanto se sucedian tais fatos, que nâo deixavam, por isso, de ser historicamente extraordinarios[1]. Nâo somos, acaso, cientistas sociais para isso, para ir além da aparência e da cotidianidade das coisas, buscando ver o que se passa nas profundezas dos momentos históricos e nas profundezas de nossa disciplina duplamente histórica? A crise da história, como disciplina, faz parte de uma cris geral, ideológica, política, de valores, que afeta o conjunto das ciencias sociais e humanas. Muito do que vamos falar sobre crises e saídas poderia aplicar-se, mutadis mutandis, à antropologia ou à sociologia, mas vamos referir-nos àquilo que conhecemos e que nos interesa mais: a história como ofício, na transiçâo enre dois séculos. O caráter geral dessa crise deriva da simultaneidade da crise da história e da crise da escrita da história, e diz respeito a todas as dimensôes da profissâo de historiador e de sua relaçâo com a sociedade. Vivemos, por conseguinte, uma crise, uma dificuldade/mutaçâo global, porque afeta a prática da história (a maneira de investigar e de escrever a história), a teoria da história e a funçâo social da história (desvalorizada, num mundo futuro, que alguns ainda querem sem alma, tecnocrático). A primeira vítima da crise historiográfica foi o paradigma economicista, determinista e estruturalista, que identificou os novos historiadores a partir da Segunda Guerra Mundial. Mas nâo parou aí, como evidenciou Geog Iggers, concerne tambén à própria definiçâo científica de nossa