historia da folha amarela
Willian Rafael
Levantou-se de onde estava por conta daquela folha amarela que repousava sobre a grama verde. Não se importou com o que aquela placa enferrujada dizia sobre pisar na grama. Pela primeira vez Joaquim se sentia livre. Livre para fazer o que ele quisesse. Colocou a folha a frente de seus olhos e a relacionou com o céu cinzento que dizia que ia chover. Não estava com medo e nem preocupado, apenas estava interessado em olhar aquela folha. Sentia carinho por essa como se já a conhecesse, aliás, tinha certeza disso. Ter certeza sempre deixou o menino feliz, mas dessa vez era diferente. Pessoas passavam por ali em número razoável. Ninguém questionava o motivo daquele garoto estar sozinho olhando aquela folha. No tempo em que o garoto nasceu, tal cena, certamente, seria curiosa e motivo de julgamento: “por que ele não está na escola?”, “será que ele está com fome?”, “quem é esse menino, onde estão seus pais?”. Agora, a cidade que um dia foi pequena possuía manias de cidade grande. Pessoas e paisagens não se distinguiam mais. Os moradores, embutidos no novo ritmo acelerado, desviavam-se de gente com a mesma frieza e astúcia que assim faziam dos postes de iluminação e dos mobiliários de coleta de lixo.
O menino era diferente dessas pessoas, ele percebia o espaço, a rua, a cidade, o mundo!
Parecia ter vindo do passado. Porém, não conhecia o seu, não possuía memória e as vezes a confundia com a imaginação. Aquela folha amarela lhe despertava algo, uma sensação de “já estive aqui” nunca sentida, pelo menos não que se lembrasse.