Historia Cadeia
Por Nina Fideles São cinco horas da tarde na praça ao lado do terminal Barra Funda, na capital paulista. É uma sexta-feira e muitas mulheres começam a chegar, carregadas de sacolas e muitas crianças. Algumas chegaram bem mais cedo. O comércio de vendedores ambulantes no local também é muito específico. Sanduíches naturais, chocolates, sacolas transparentes e cigarros, muitos cigarros.
E é assim toda sexta-feira na praça. Estas mulheres enfrentarão seis, nove horas de viagens para chegar aos seus destinos. Mirandópolis, Reginópolis, Hortolândia, Lavínia, Ribeirão Preto, Paraguassu, Avaré… Em cada canto da praça, um itinerário. Bolsas são marcadas com os nomes e a espera é longa. Enquanto isso, muita conversa. São namoradas, esposas, mães que cumprem pena junto com seus maridos e filhos.
Muitas mulheres, muitas histórias. Todas elas se submetem a revistas íntimas humilhantes, a sacrifícios financeiros e pessoais, e mantêm segredos com a família e amigos para continuarem sustentando um relacionamento com presos.
Patrícia* tem 22 anos, mas encara essa realidade desde os 18, quando o seu namorado, dois anos mais velho, foi preso. “É horrível, terrível. Já desisti, voltei a visitar, engravidei com 19 anos. Amo muito ele e vou esperar.” E assim é também para Letícia*, 31, Elaine, 27, Márcia*, 24, Maria*, 62, Selma*, 42, Gláucia, 23, Karina*, 22, Sílvia, 47, e muitas outras mulheres que vivem entre o amor e as grades.
A espera de anos e horas Ao chegarem à praça, elas pegam uma senha que vale para a entrada no presídio. Selma, por exemplo, preferiu chegar às 13h para garantir a senha número 1 na visita ao marido de 40 anos, preso há sete. Saindo entre as 20 e 22h, costumam chegar às cidades onde estão os presídios entre 2 e 4h da manhã. No estado de São Paulo existem 85 penitenciárias masculinas, incluindo os Centros de Detenção