High
Ela também reparou naquele casal que entrou de mãos dadas, sem trocar nenhuma palavra. Eles entraram e sentaram-se à mesa que ficava perto do banheiro, debaixo daqueles porta-retratos que tinham fotos que vocês, juntos, nunca conseguiram descobrir de quem se tratava. Eles mal trocavam uma palavra com o outro e quando balbuciavam alguma coisa, parecia mais uma espécie de agressão. Você não sabe, mas outro dia ali, sozinha, te esperando, porque sempre esperava, ela perguntou ao dono do bar quem eram aquelas pessoas, ele sorriu e respondeu que eram ‘amores de vida, amores antigos’. Lembrou-se de você… que não apareceu.
Quando tirou os olhos do casal e olhou pra bebida, lembrou-se do motivo que a levara até ali. Foi por você, moço. Nos pensamentos dela, ela estava ali por você e não pra você. Lembrou-se de todas as vezes que pra você ela se despia das roupas, das máscaras de pepino, das coisas que ela dizia pra se defender. E ela remoía todas as vezes que se entregou por inteiro e você sempre sendo metade. Ela não conseguia lembrar o motivo que a levara a fazer isso, mas ela tava ali dessa vez, jurava, pra te dizer que nunca foi bem assim que ela te quis.
Moço, ela queria que você reparasse que ela precisava de romance, mesmo sabendo que você preferia uma espécie de suspense que não sustentava o drama dela. Ela queria que você entendesse que também precisava de algum tipo de retorno, um efeito-bumerangue pra ver se você voltava. Sabia que você não precisava de nada mais que isso, mas no fundo, ela esperava que você também sentisse essa necessidade. Sabia que contava com você pra tudo que precisasse.