HERACLITO
Há vinte e cinco séculos as palavras de Heráclito vêm provocando contínuas reflexões. Dele falaram gregos e romanos, árabes e cristãos, modernos e contemporâneos. Sua obra se perdeu, mas muitas de suas sentenças, citadas por diversos autores, foram conservadas e, mais tarde, reunidas em coletâneas2.
Estes famosos fragmentos de Heráclito são cento e vinte e seis frases, fulgurantes como relâmpagos, cortantes como uma navalha. Não são pedaços retirados de um texto contínuo, linear. Nasceram - sobre isto a crítica hoje concorda - sob a forma de aforismas. São frases densas, concisas, que lhe valeram, desde cedo, a fama de "obscuro".
Heráclito aceita ser considerado enigmático, sibilino, oracular. Tendo seguido a inscrição do Oráculo de Delfos ("Conhece-te a ti mesmo") e sabendo porque o deus délfico envia seus enigmas, que atravessam milênios, através da sibila de boca delirante, Heráclito, ao escrever em estilo enigmático, não oculta nem revela seu pensar, mas indica-o, por sinais. Seus aforismas são ofuscantes sinais (para uns obscuros, para outros luminosos) em busca de olhos de ver e de ouvidos de ouvir… (conforme os fragmentos de número 92 e 93).3
Incompreendido pela maioria de seus contemporâneos, seu pensamento vem provocando um eco insistente. Embora o mais das vezes distorcido, ele foi continuamente citado, desde Platão, Aristóteles e Teofrasto. Por sua vez, os estóicos o escolheram para fundamentar certos pontos de sua doutrina. E na Idade Média alguns autores citaram o logos de Heráclito, que tomam pelo mesmo Logos que aparece na Evangelho de São João. Mas é no século XIX que o pensamento de Heráclito reaparece com esplendor, principalmente nas interpretações de Hegel e de Nietzsche.