Hannah Arendt, o sionismo e a banalização do mal
Nesta breve passagem, a filósofa alemã Hanna Arendt descreve o rapto do outrora poderoso obersturmbannfuhrer (tenente-coronel) da SS Adolf Eichmann por um comando de agentes do Mossad (o serviço secreto israelense), que o levaram a Tel Aviv para ser julgado por crimes contra a humanidade. A ação israelense gerou controvérsia, uma vez que foi realizada sem comunicação prévia às autoridades argentinas e sem autorização formal do país, que não tinha tratado de extradição com Israel e que já abrigara diversos criminosos nazistas em passado recente, entre eles o tristemente célebre dr. Josef Mengele, responsável por macabras experiências médicas no campo de extermínio de Auschwitz.
O sequestro efetuado pelo comando israelense, nesse contexto político e diplomático, é justificável moralmente segundo a autora, que cita os diversos pedidos de extradição feitos pela Alemanha Ocidental para a captura de criminosos de guerra como Karl Klingenfuss e o próprio Mengele, recusados pelo governo argentino. A violação da legalidade para a prisão e julgamento de Eichmann, porém, não seria o episódio mais polêmico desse processo, que causou comoção e dividiu opiniões na sociedade civil israelense e entre intelectuais no mundo ocidental. Hannah Arendt, que escreveu uma série de artigos sobre o julgamento para a revista norte-americana The New Yorker, em 1961, foi especialmente criticada pelos sionistas pelo enfoque crítico de suas matérias, reunidas posteriormente no livro Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal, publicado pela primeira vez em 1963 e relançado há pouco no Brasil (São Paulo: Companhia das Letras, 2013).
Sua interpretação do