Gregório de matos
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, de vossa alta clemência me despido; porque quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado, a abrandar-vos sobeja um só gemido: que a mesma culpa, que vos há ofendido, vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada, glória tal e prazer tão repentino vos deu, como afirmais na sacra história:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, cobrai-a; e não queirais, pastor divino, perder na vossa ovelha a vossa glória. A partir da leitura do poema é possível traçar a síntese do raciocínio Barroco: cabe ao homem pecar e a Deus poder ajudar seus filhos. Assim, criador e criatura se unem pela consciência dos papéis que têm de execer: mecanismo pelo qual o Todo (Deus) habita a parte (ser humano). Essa concepção metonímica da existência divina (Todo) que está em todas as partes é também explorada por Gregório no seguinte soneto de linguagem lúdica e cultista.
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o