Graduação
Comendo como Gente: Formas de Canibalismo Wari'
(Pakaa Nova), de Aparecida Villaça.
Rio de Janeiro, Editora UFRJ/ANPOCS. por Robin M. Wright "Les cannibales, eux, ne pretendente pas du tout vivre à l'état de nature ou selon leur désir, its pretendent tout simplement, par leur cannibalisme, vivre en société. "(Jean Baudrillard, L'échange symbolique et la mort, 1976)
O canibalismo é certamente uma das questões mais enigmáticas da etnologia sul-americana. A palavra em si evoca um leque de sentimentos peculiar à mitologia do Novo Mundo, o horizonte mítico das culturas européias na época da descoberta e da expansão imperial, e conjura uma série de imagens que desloca ou oculta os sentidos indígenas do ato de dispor de seus mortos pela ingestão. Apesar da literatura relativamente extensa sobre a questão - que data desde as primeiras observações da vida nativa no continente -, poucos estudos, e estes principalmente na última década, têm levado a sério a idéia de que o ato de consumir os mortos, seja a carne de um inimigo seja as cinzas de um parente morto, representa uma resposta religiosa â existência da morte e a presença do sagrado em forma mortal.
Avanços enormes em nossa compreensão têm sido feitos pelas poucas descrições intensivas de algumas culturas das Terras Baixas sulamericanas - os Guayaki, Yanamami, Araweté e Tupinamba, e agora, através da maonografia de Aparecida Villaça, os Wari' (Pakaa Nova). A base para repensar a questão, naturalmente, foi as Mytologiques de Lévi-Strauss, que demonstrou quanto os valores do simbolismoculinário (do
"consumo") servem como um dos eixos críticos no universo conceitua) dos nativos sul-americanos. Mas, além de as categorias da lógica culinária serem "boas para pensar", o ato de consumir, enraizado nos mitos, representa "a dinâmica internado cosmos e a principal estratégia simbólicaque as formas de vida do cosmos se dispõem para enfrentar o caos". (Sullivan,1988: 522) Os Wari' fornecem uma