Gestão conflitos
Gostaria de iniciar essas reflexões relatando duas experiências que nos podem ajudar a compreender algo sobre a dinâmica das relações entre essas duas instituições - a Família e a Escola. A primeira experiência ocorreu quando um grupo de pesquisa, depois de um período de observações numa escola da periferia de São Paulo, reuniu-se com a equipe da escola para apresentar o resultado de seu trabalho. Houve o cuidado de se preparar a reunião de forma a dar subsídios para a construção de propostas para a melhoria das condições de trabalho na escola. (2) Uma das observações referia-se à quadra de esportes. No muro que dava para a rua, havia um pedaço que estava com marcas de terra. Ao indagar sobre o porquê daquilo, o pesquisador foi informado pelos alunos de que aquele era o lugar por onde eles pulavam, nos finais de semana, para jogar futebol na quadra. Este era um fato conhecido por todos - professores, alunos e pais -, mas a proibição de entrar na escola era mantida e sistematicamente transgredida.
1 Professora da Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP. 2 Isto me faz pensar nos encontros e desencontros na relação pesquisadores-escola. Trata-se de uma relação muito delicada e que, às vezes, impede uma troca que poderia favorecer imensamente ambas as partes.
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No caso de se fazer valer a proibição, seria necessário adotar medidas de controle e punição. Não era o que ocorria. Simplesmente era proibido, mas nada acontecia se houvesse transgressão. Para nós, isso significava que os alunos, ao pularem o muro, poderiam correr um remoto risco de punição, caso se fizesse valer a proibição, ou nada aconteceria pela vigência da política de fechar os olhos. Os alunos estavam aprendendo, ao mesmo tempo, a transgredir normas, a enfrentar o risco de punição e a impunidade, pois todos sabiam o que acontecia e não havia nenhuma conseqüência. Em encontros com as professoras, mostramos nossa visão