GEORG SIMMEL
A relação de Georg Simmel (1858-1918) com o judaísmo parece cercada por ambigüidades. Como a própria relação dos judeus com a Alemanha é marcada por ambigüidades, talvez seja interessante pesquisar em que sentido tais ambigüidades coincidem e em que medida podem ser compreendidas.(1)
Georg Simmel via o judeu como assimilado na Europa da passagem do século: Julgava que os elementos judaicos já estavam consideravelmente entranhados na cultura européia. Ao ser indagado, certa vez, por um aluno sionista, teve a oportunidade de, em duas cartas, expressar suas idéias a esse respeito, naquilo que se tornou o mais significativo documento de suas relações com o judaísmo, já que evitou pronunciar-se sobre o tema. Diz Simmel:
O perigo da absorção não ameaça de modo algum os judeus, .pelo contrário, encontram-se no estágio de judaização da Europa. Se examinarmos isto com uma lupa psicológica, encontraremos elementos "judaicos" no sangue de todos os povos de cultora e essa judaização do não judeu corre paralela à europeização dos judeus. Quanto mais os judeus se assimilam, tanto mais eles se assimilam a si mesmos, e o momento da maior assimilação dos judeus coincidirá com o momento de sua maior influência enquanto elemento psíquico (...) europeus e judeus encontram-se em uma profunda ligação cultural. Eles são indivisíveis (...) (Lozinskij, 1976, pp. 242, 243).
O resultado desses dois processos complementares é unta integração que se supõe perfeita: com o crescente processo de diferenciação social (Simmel, 1980b) e estilização da vida (Simmel 1900b), a integração do judeu na Europa paréce lhe já assegurada. Simmel matiza o problema de modo interessante ao falar de uma" judaização do não judeu", indicando não só que a cultura judaica é penetrada e diluída pela cultura européia (isto é; cristã), mas também que a própria cultura européia passa a incorporar elementos da cultura judaica. O resultado dessa via de mão dupla é uma suposta "verdadeira