Resumo: Há aproximadamente três anos, um debate sobre a reforma do ensino secundário francês relançou uma antiga discussão em torno do papel e da importância da manutenção da geografia no currículo do ensino básico. Argumentos bastante conhecidos vieram novamente à tona: a geografia nunca teria produ-zido resultados suficientes para fazê-la figurar ao lado das disciplinas "verdadeiramente" científicas; ela pretende integrar qua-se todos os ramos do saber, mas na verdade não ultrapassa o patamar das relações banais entre natureza e cultura; jamais teria se libertado dos estreitos limites de uma tautologia empiris-ta; e se satisfaz com análises simplistas de relações superficiais, sem se elevar ao nível de abstração requerido pela ciência moderna; enfim, ela seria uma ciência "abortada", segundo os julgamentos críticos mais severos. Em resposta, os geógrafos sublinharam os progressos rela-tivos aos diversos domínios incriminados pelos críticos, evo-cando notadamente a introdução de novas técnicas, o caráter mais operacional dos conceitos recentes, assim como o papel da geografia na definição de políticas de reorganização do terri-tório. A resposta enfatizou, portanto, os aspectos relacionados à modernização de seus métodos, a nova perspectiva prospecti-va e, sobretudo, a ruptura que foi operada com aquilo que se identifica como sendo a "velha" geografia. O prestígio e a legiti-midade se justificariam, assim, pela conformidade ao modelo normativo de ciência, e sua modernidade se exprimiria nas téc-nicas sofisticadas (imagens de satélite, tratamento informático de dados, sistemas de informações geográficas etc.) e nos métodos que ela emprega. Geografia e modernidade, eis o eixo central da questão. Assim, saber se a geografia é uma ciência consiste, em um certo sentido, em meditar sobre o caráter moderno desta disciplina. Se aceitarmos, no entanto, a idéia de que a ciência de uma época se inscreve necessariamente na representação do mundo desta época e se aceitarmos,