geni e zepim
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Geni sem seu zepelim Para tratar do gênero de Geni, precisamos considerar a obra em que a canção se encontra, pois, na Ópera do Malandro, Geni é uma travesti que, como outras mulheres, vive de prestar seus serviços sexuais num bordel barato, freqüentado por “tudo que é nego torto / Do mangue e do cais do porto”: “O seu corpo é dos errantes / Dos cegos, dos retirantes / É de quem não tem mais nada”. Além disso, ela não pertence como objeto ao bordel onde trabalha e frequenta. Ela é dona de seu próprio nariz e vive e faz de seu corpo o que quer, com quem e como quer. Afinal, na descrição que segue sua apresentação, na primeira estrofe da canção: “Dá-se assim desde menina / Na garagem, na cantina / Atrás do tanque, no mato / É a rainha dos detentos / Das loucas, dos lazarentos / Dos moleques do internato / E também vai amiúde / Com os velhinhos sem saúde / E as viúvas sem porvir”. Não há, pela descrição feita, preconceito com gênero e faixa etária, mas há uma escolha implícita: ela se identifica e se relaciona com os excluídos sociais, por ser um deles. Tanto é que, ao ser escolhida pelo comandante, a primeira reação é dizer não porque “prefere amar com os bichos”. Em sua apresentação, o narrador revela o “segredo” (“e isso era segredo dela”) de Geni: “também tinha seus caprichos” – o lexema “caprichos”, usado com ironia, revela o pensamento non sense da cidade, uma vez que os “caprichos” se referem à escolha de se dar a quem, quando, como e onde quiser, enfim, de ser dona de seu próprio corpo e vontade. Essa apresentação que parece valorar negativamente a “escória” social se inverte com a presença do comandante, da cidade (como se os sujeitos citados acima não pertencessem à mesma), do prefeito, do bispo e do banqueiro. Há uma diferença entre Geni e as prostitutas que vai além da anatomia: Geni “dá-se” e não “vende-se”.
No entanto, na letra da canção de Chico Buarque, todos os elementos discursivos se referem a Geni no feminino (ela, donzela, namorada, rainha,