Garrett
- Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett1
Garrett - O homem que inventou o português moderno e muito mais
“Tem ruas, praças e avenidas com o seu nome por todo o país, e ainda faz parte das leituras obrigatórias do ensino secundário. Todos, aliás, lhe conhecemos o retrato “oficial”: cabelo ondulado, barba oval e estreita que mal cobre o rosto, e todo muito composto — é sabido que era vaidoso e passava horas a arranjar-se, tantas as pequenas almofadas que distribuía pelo corpo para ficar mais elegante.
Mas o que resta, hoje, de Almeida Garrett, 150 anos depois da sua morte?
Garrett só viveu 54 anos, mas fez centenas de coisas: foi escritor, deputado, ministro, tribuno, cronista-mor do reino e actor; fundou vários jornais, o Teatro Nacional D. Maria II e co-fundou o Grémio Literário; escreveu peças de teatro, poesia, romances e leis nacionais (…); foi um quase-etnólogo que registou séculos de literatura popular oral; (…) desembarcou em 1832 nas praias do Mindelo, ao pé do Porto, com farda e arma, ao lado do exército liberal de D. Pedro IV para lutar contra as tropas miguelistas; escreveu folhetos políticos incendiários, viveu a “utopia das soluções populares”, e morreu visconde.
Mas sobretudo escreveu, escreveu, escreveu. “É aliás o escritor morto que mais escreve”, diz com um sorriso Sérgio Nazar David, poeta e professor de Literatura Portuguesa na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que acaba de editar, no Brasil, “Cartas de Amor à
Viscondessa da Luz” (…), a suposta musa inspiradora de Folhas Caídas, o seu livro de poesia mais célebre (de 1853). O sorriso do professor brasileiro tem uma razão concreta: continuam hoje a aparecer textos inéditos de Garrett. (…)
Uma coisa é certa: parece consensual que não se pode separar o Garrett-político do
Garrett-escritor, amoroso ou popular (…).
Mas também parece ser consensual que, acima de tudo, Almeida Garrett é um escritor e que criou uma escrita moderna e fez uma