Gambiarra n o resolve
O discurso de que viria aí um ajuste temporário e de que logo a economia voltaria a crescer perdeu sentido
Celso Ming 27 Julho 2015 | 23h 00
Perdeu sentido o discurso de que viria aí um ajuste temporário e de que logo mais a economia voltaria a crescer, a produzir empregos e o salário deixaria de ser tão carcomido pela inflação.
Foi o que a presidente Dilma e seus ministros da área econômica repetiram ao longo do primeiro semestre deste ano. “Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão, porque esta situação é passageira. O Brasil tem todas as condições de vencer estes problemas temporários. (...) As dificuldades são conjunturais, esperamos uma primeira reação já no final do segundo semestre deste ano”, disse a presidente Dilma em seu pronunciamento de 8 de março.
Não era só uma conversa para enganar os trouxas. Era uma convicção da presidente, partilhada pelos ministérios da área econômica e pelo Banco Central.
Agora, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, entoa um hino diferente. Vem repetindo, antes à voz pequena e agora a plenos pulmões, que há um “desequilíbrio estrutural na área fiscal”. A despesa pública tende a crescer mais do que o PIB e mais do que a arrecadação. É claro, sempre dá para cortar os gastos. Mas não dá para superestimá-los. A tampinha é sempre uma insignificância diante do tamanho da garrafa.
Grande parte desse desequilíbrio foi exacerbada pela política econômica irrealista iniciada em 2009 e mantida no primeiro mandato da presidente Dilma, que o ministro Guido Mantega denominou pomposamente de Nova Matriz Macroeconômica. Baseou-se no alargamento das despesas públicas, no pressuposto de que era necessário alavancar o consumo para movimentar a atividade econômica e garantir o emprego. O resultado foi o aprofundamento do rombo que a baixa da maré expõe com crueza.
O desequilíbrio estrutural do setor fiscal, alargado pelo diagnóstico errado e pelas decisões mais erradas ainda