Fé racional
Uma antiga fábula francesa conta a história de Chantecler, um galo matusquela que um dia se convenceu seu canto é que fazia o sol nascer. Tanto apregoou o seu poder que as outras aves do galinheiro acabaram acreditando. Passaram também a temer que, se um dia Chantecler morresse o sol nunca mais nasceria. Um dia, já um tanto velho, Chantecler dormiu demais e o sol nasceu sem que ele tivesse cantado, deixando-o triste e desmoralizado para o resto da vida. Esta fábula nos proporciona o precioso exemplo de um líder tendencioso, mal intencionado, egocêntrico, ególatra e outras “qualidades” similares. Mas nos proporciona, também, um inestimável modelo de liderados cegos, medrosos, ignorantes, irracionais e preguiçosos. É verdade que: “as massas não estão em condição de se conduzir” – como afirma Huberto Rohden – “têm de ser conduzidas e, para ser conduzido, é necessário que haja condutor”. É verdade também que: “Algumas pessoas são aptas para oferecer liderança” – segundo William Barclay – “outras são aptas apenas para aceitá-la”, contudo, nenhum ser racional pode assumir a postura de liderado sem prévio e profundo conhecimento das ideologias apregoadas por seu guia. A parábola em questão é, também, rica em detalhes de como nasce e se alastra uma falsa doutrina arrastando um sem número de adeptos irracionais, guiados por um condutor pouco confiável. Senão vejamos: Em primeiro lugar, o líder (o galo) se convence de uma pretensa verdade: “Seu canto é que fazia o sol nascer”. Em seguida, convicto disso, passa a proclamá-la aos seus partidários. Então, com incrível poder de persuasão, convence-os de que sua doutrina é autêntica, real e verossímil. Logo, passa a ter sob seu controle um considerável número de fiéis totalmente dependentes dele e de seus dogmas a ponto de temerem por sua morte. Cegos, não enxergam o óbvio! Medrosos, não questionam! Preguiçosos, não investigam, não buscam a autenticidade! Acomodados, apenas crêem no que