Fábrica toyota
Com uma cultura baseada na tradição, na melhoria contínua e no trabalho em grupo, a Toyota roubou a liderança da rival GM
Cristiane Correa, de Tóquio e Toyota City, da EXAME
Toyota é um tédio. Na montadora asiática não há "executivos celebridade" -- seu presidente, o japonês Katsuaki Watanabe, é um sujeito discreto, pouco afeito a entrevistas, festas ou frases bombásticas. As maiores inovações da empresa levam anos até sair das pranchetas e ganhar as ruas -- o híbrido Prius, por exemplo, seu modelo mais revolucionário, demorou quase 50 meses para ser idealizado e atingir o nível de desempenho exigido pelos engenheiros da Toyota. Na matriz, os funcionários têm emprego vitalício, uma instituição decrépita até mesmo na conservadora sociedade japonesa, e a alta cúpula trabalha com um conceito muito particular do que seja meritocracia -- para galgar posições na hierarquia, é preciso ter não apenas talento mas também idade (mais de 50 anos, no caso dos vice-presidentes, e perto de 60 para assumir a presidência). Nenhum julgamento é feito da noite para o dia ou baseado no argumento de "aproveitar oportunidades de mercado" -- na Toyota, a tomada de decisão é um processo consensual, jamais motivado por fatores como o chamado "efeito manada". Tudo é lento, planejado, modorrento.
Mas tudo é também praticamente perfeito. A fórmula apoiada em discrição, busca pela qualidade, longo relacionamento com empregados e fornecedores e crescimento meticulosamente calculado levou a Toyota à inédita liderança do mercado mundial de automóveis no fim de abril, ultrapassando a americana General Motors, que havia 73 anos ocupava o posto. Trata-se de um daqueles momentos históricos em que um sistema mais forte e competitivo finalmente deixa para trás outro envelhecido. Passo após passo, a Toyota conseguiu se reinventar nas últimas décadas. A GM, um dos símbolos máximos do capitalismo americano, perdeu-se em sua teia de ineficiência e agora tenta