Futebol e Racismo
CDD. 20.ed. 796.33
O RACISMO NO FUTEBOL DO RIO DE JANEIRO NOS ANOS 20:
UMA HISTÓRIA DE IDENTIDADE1
Antonio Jorge SOARES*
RESUMO
A fundação da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA) em 1924, segundo a versão dominante de jornalistas e acadêmicos é tomada como o principal indício da mentalidade racista presente no futebol nos anos 20. O Clube de Regatas Vasco da Gama, ao vencer o campeonato de 1923 com um time de negros e mestiços, teria motivado a ruptura no futebol e a criação da AMEA. O objetivo deste estudo é demonstrar que a trama “racista” que explica a fundação da AMEA em decorrência da vitória do
Vasco debilita-se, e no máximo torna-se lateral, pela ausência de dados. A fundação da AMEA, a partir de novos levantamentos, é melhor explicada pela tensão entre a manutenção da ética do amadorismo e a rápida popularização do futebol nos anos 10 e 20 do século XX, e pela dinâmica das instituições esportivas.
UNITERMOS: Futebol - História; Vasco; Racismo; Amadorismo.
INTRODUÇÃO
As narrativas produzidas por jornalistas a partir de fatos envolvendo clubes e jogadores do futebol no Brasil têm sido tradicionalmente fonte de criação de mitos e, como tal, têm influenciado ou confundido pesquisadores pouco familiarizados com as idiossincrasias deste esporte. O esporte parece ser um campo fértil à invenção de tradições ou à construção de histórias de identidade, no sentido de Hobsbawm. O conceito de “história de identidade” pode ser entendido como o uso emocional do passado para justificar instituições e ações no presente e/ou alimentar algum tipo de auto-estima ou ressentimentos de coletividades. Neste sentido, as funções e usos sociais da história por grupos, instituições e indivíduos não devem ser confundidos com o ofício de fazer história profissionalmente. A “heróica” história do Clube de
Regatas Vasco da Gama como o pioneiro a romper com as barreiras raciais e sociais no espaço do futebol é um exemplo de