frome
Bem, acho que essa reabilitação não faz referência à tese da democracia racial, porque não a discute. Ela não está mais no centro da polêmica. Na época, queríamos mostrar que havia preconceito, porque há preconceito. Continuo achando isso. E há movimentos negros. No meu governo, eu apóio os movimentos negros. Fiz o Conselho Nacional dos Negros. Eu tenho nomeado, expressamente, negros para posições altas. O subchefe militar do Gabinete de Segurança Institucional é negro. Temos uma mulher negra que ocupa uma posição muito alta, na Fundação Palmares. Convidei-a há pouco para ser representante do Brasil no exterior. Ela declinou. Mas, enfim, é preciso ter ações exemplares, ações, digamos, que corrijam a tendência ao preconceito. Não estou do lado da reabilitação acrítica. É melhor uma reabilitação crítica.
Não foi de agora o que escrevi sobre Gilberto Freyre. Já faz muito tempo. Ele teve a capacidade de entender algumas peculiaridades brasileiras, mesmo com exageros, que o puseram, realmente, na vanguarda de muitos terrenos da sociologia. E, também, foi capaz de fazer um painel importante de nossa sociedade, pois estruturou uma visão sobre o Brasil: certa, errada, mais certa, menos errada. Isso importa. Mas o que importa mais é que teve a audácia de pensar e o fez com competência muito grande.
Além do mais, ele era um homem que trabalhava em muitos terrenos: era crítico literário, lidava com psicologia, lidava com sociologia. Não lidava com economia. Essa é a diferença maior dele para com os outros, como eu, que fomos formados em São Paulo, numa visão mais estruturada do ponto de vista econômico. Não sei nem se precisaria haver uma reabilitação do Gilberto Freyre. Ele nunca foi, digamos, posto à margem. Foi objeto,