Friedrich Nietzsche
O intelecto, como um meio para a conservação do indivíduo, desenvolve suas principais forças na dissimulação; pois esta é o meio através do qual se conservam os indivíduos mais fracos, menos robustos. Na medida em que o indivíduo, em oposição a outros indivíduos, quer conservar-se, num estado natural das coisas ele utiliza o intelecto na maioria das vezes somente pra a dissimulação: mas porque ao mesmo tempo o homem, por necessidade e tédio, quer existir social e gregariamente, ele precisa de um tratado de paz e almeja que pelo menos o mais rude bellum omnium contra omnes (guerra de todos contra todos) desapareça seu mundo.
O que é verdade? Uma multidão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim: uma soma de relações humanas poética e retoricamente potencializadas, transpostas e ornadas e que, depois de longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, sobre as quais se esqueceu tratar-se de metáforas que se tornam usadas e sem força sensível, moedas que perderam sua impressão e agora são consideradas apenas metal, não mais moedas.