Freud e o Inconsciente
"A psicanálise considerou todo o mental como sendo, inicialmente, inconsciente; a qualidade ulterior de "consciência" podia tanto estar presente como ausente. Isto certamente provocou uma rejeição dos filósofos, para quem "consciência" e "mental" eram idênticos. Eles protestaram, pois não podiam conceber um absurdo como o "inconsciente mental". Isto, todavia, de nada adiantou; a idiossincrasia dos filósofos acabou sendo deixada de lado. A experiência da freqüência e da força dos impulsos (alcançada a partir do material patológico, do qual os filósofos eram ignorantes), dos quais diretamente nada se sabia, e cuja existência teve que ser inferida como se infere um fato no mundo exterior, não deixou margem à dúvida. Poder-se-ia salientar, incidentalmente, que isto era apenas tratar a própria vida mental como sempre se havia tratado a de outra pessoa. Não se hesitou em atribuir processos mentais à outra pessoa, mesmo que não se tivesse nenhuma consciência imediata deles e se pudesse apenas inferi-los das palavras e ações dela. Contudo, o que se sustentou ser bom para outra pessoa deve ser aplicável a si próprio. Qualquer um que tenha insistido que os seus próprios processos ocultos realmente pertenciam a uma segunda consciência defrontou-se com o conceito de uma consciência de algo do qual nada se sabia, de uma "consciência inconsciente" - e isto dificilmente seria preferível à suposição de um "inconsciente mental". ... A questão ulterior quanto à natureza última deste inconsciente não é mais sensata ou proveitosa do que a mais antiga sobre a natureza do consciente".
(1925d [1924], XX, 31-2)
As razões para se acreditar na existência do inconsciente são de fato empíricas, mas a questão sobre o que distingue mais fundamentalmente a concepção de inconsciente de Freud é conceitual. Preocupar-me-ei principalmente com a natureza do inconsciente em termos filosóficos gerais, ao invés de com o detalhe preciso da