Foucault, michel. o nascimento da medicina social. em: microfísica do poder (1979) – capítulo v. 23ª edição – editora graal
O texto de Michel Foucault é de uma conferência que tem por principal objetivo indagar se a medicina sempre foi social, coletiva e não centradas no indivíduo. Principalmente se a medicina moderna, que nasceu nos fins do século XVIII, teria ou não essa concentração no individual. Poderia ser correta a hipótese de que a medicina moderna tornou-se individual porque penetrou no interior das relações de mercado, tendo em vista a economia capitalista que prima pela relação médico-doente, ignorando a dimensão global, coletiva da sociedade?
Foucault procura mostrar o contrário: que na realidade a medicina moderna é uma prática social que possui uma tecnologia do corpo e tendo apenas como um de seus usos o tipo individual que valorizaria essa relação médico-doente. Para esclarecer essa indagação, Foucault menciona que no livro de Victor Bullough (1965), conta sobre a história da medicina na Idade Média que já era do tipo individualista, mas com dimensões coletivas discretas e limitadas. Por isso e outros indícios Foucault aposta da hipótese de que o capitalismo ao invés de ter transformado a medicina coletiva em privada, fez exatamente o contrário. Ocorreu a socialização da medicina, pois o corpo tornou-se força de produção, força de trabalho, existindo o interesse, com isso, de controlar a sociedade através do indivíduo, investindo-se primeiro no âmbito biológico, somático e corporal, para só adiante controlar as consciências e ideologias.
O corpo torna-se uma realidade bio-política e a medicina é uma estratégia bio-política, que serviu e serve para o controle do corpo. Mas apesar do corpo ter sido investido político e socialmente como forma de trabalho, esta não foi a primeira forma assumida pela medicina e sim em último lugar, já na segunda metade do século XIX. Para organizar didaticamente a grosso modo, Foucault indica três etapas para a