Formalismo Russo
O Formalismo russo surgiu concomitante à primeira guerra mundial e à revolução russa. No terreno político, propagava-se o materialismo histórico e as ideias marxistas: estas ideias ressaltavam a importância da instância econômica como determinante, a infraestrutura que engendraria a organização dos níveis social, político e cultural. A revolução modifica toda a realidade da Rússia: os modos de produção, a conformação social, círculos acadêmicos, culturais e artísticos. As opiniões dos formalistas entraram em conflito com os teóricos de inspiração marxista, pois estes consideravam que a nova poética não deveria ignorar as realidades sociais e sua relação com as manifestações artísticas.
Em torno de 1924-25 sucederam-se fortes ataques marxistas às ideias dos Formalistas. Trotsky, em sua obra “Literatura e Revolução” (1924) critica o Formalismo especialmente na sua dimensão neo-kantista, “tratando valores ideológicos como entidades autônomas e desenraizadas do processo histórico”1. O Formalismo foi taxado de “heresia” contra a pura ortodoxia marxista-leninista e conforme o Partido Comunista impunha sua disciplina na vida cultural russa, as doutrinas formalistas foram silenciadas. Segundo Jobim2, citando Jauss3, a oposição entre marxismo e Formalismo residia em grande parte na abordagem do papel do leitor na criação artística:
“A escola marxista não trata o leitor – quando dele se ocupa – diferentemente do modo com que ela trata o autor: busca-lhe a posição social ou procura reconhecê-lo na estratificação de uma dada sociedade. A escola formalista precisa dele apenas como o sujeito da percepção, como alguém que, seguindo as indicações do texto, tem a seu cargo distinguir a forma ou desvendar o procedimento4” .
O Formalismo torna-se mais conhecido no Ocidente a partir da publicação do livro de Victor Erlich “Russian Formalism: History, Doctrine”, em 19555. Pretende, em primeiro lugar, conferir à crítica literária um