Fome

A DESCOBERTA DA FOME
Nas terras do Nordeste pobres e famintas aonde o autor nasceu, era hábito servir-se um pedacinho de carne seca com um prato cheio de farofa. A carne era pouca e só pra dar o gosto e o cheiro pra montanha de farofa feita de farinha de mandioca. O personagem central da história que o autor vai contar é o drama da fome, é a história de vida de um menino pobre que abre os olhos para o espetáculo do mundo, um logo braço de um mar de misérias nos bairros da cidade de Recife aonde tinham povoados de seres humanos feitos de carne de caranguejos, com pensamento e sentimento de caranguejo, meio homens e meio bichos. Cedo ele se deu conta deste mimetismo que era os homens se assemelhando em tudo com os caranguejos, que a medida que iam crescendo se afundavam cada vez mais na lama.
Nasceu na cidade de Recife que sob certos aspectos ele considerava a Hong
Kong da América, com a miséria acumulada existente. A sociedade dos mangues vegeta nas margens da estrutura agrária feudal e da estrutura capitalista, é uma sociedade imprensada entre essas duas estruturas esmagantes e foi ai que ele descobriu a fome. Aonde os caranguejos espumam de fome à beira da água e os homens murmuram monossílabos, com um talo de capim enfiado na boca, chupando o suco verde do capim e deixando escorrer pelo canto da boca uma saliva esverdeada que se parece com a espuma dos caranguejos que é a baba de fome.
Toda a vida dessa gente gira em torno de uma única obsessão que é a angústia da fome, são os heróis do maior drama da humanidade que é o drama da fome.
Quando cresceu, saiu pelo mundo afora e teve uma nova surpresa que o que ele pensava acontecer só no Recife, era uma drama universal que tudo aquilo acontecia no mundo inteiro e que a fome e a morte com a sua presença constante estão sempre a tecer o destino dos homens.