flores azuis
Novas cartas chegam diariamente, sempre revisitando o dia da separação e acrescentando detalhes cada vez mais perversos aos acontecimentos. O homem que as recebe não apenas sucumbe ao desejo de lê-las como passa a viver em função disso, o que acaba por desestabilizar a sua relação com o trabalho, com a ex-mulher, com a filha e com a atual namorada, todas elas mulheres que ele não compreende e pelas quais se sente acuado.
Desse extravio de correspondência, que talvez não seja tão acidental como parece à primeira vista, constrói-se aos poucos uma trama virtual que funde as trajetórias da misteriosa "A" e do perplexo protagonista.
Alternando as cartas com o relato em terceira pessoa do cotidiano e da perturbação mental do homem que as lê, Flores azuis pode ser visto como uma atualização crítica do gênero do romance epistolar. Seu desfecho inesperado e vertiginoso instiga o leitor a construir novos nexos e imaginar toda uma outra história oculta.
Com uma prosa refinada e uma construção engenhosa, que valoriza ao extremo as potencialidades do não-dito, a jovem autora Carola Saavedra confirma o talento revelado em seu romance anterior, Toda terça.