Flores Azuis
Flores azuis, de Carola Saavedra é um modo particular de apropriação da linguagem. Assim como relata Bakhtin (1981), toda enunciação é de natureza social. Trata-se de uma ação individual, presente, concreta, que produz a relação eu/tu, ao mesmo tempo que é produzida por ela. A natureza social se revela através das cartas de amor enviadas por “A” para seu antigo namorado e que foram recebidas pelo atual morador do apartamento, que não o conhecia. O novo morador se identificou com as características da personalidade do ex. namorado de “A”. Os conflitos vividos por “A” com o ex. namorado produzem um novo destino para o atual morador, que passa a refletir sobre suas próprias ações, comparando-as com às das cartas. E, nós leitores, também fazemos, ao longo da leitura, analogias da vida social do casal com as nossas relações pessoais. Benveniste (1991) revela que o eu, a primeira pessoa do discurso, a que fala para si mesma ou para o outro, insere-se em um contexto e dirige-se necessariamente a um tu, segunda pessoa, com a qual se comunica linguisticamente. Em Flores Azuis, o “eu’ da enunciação se dirige a um “tu”, além do ex. namorado, também ao leitor. Assim como retrata Paulino e Walty (2005), a enunciação, nesse caso, desdobra-se em uma pluralidade de “eu” e de “tus”.
Essa pluralidade é descrita através dos “eus” representados por “A”, “tus” representados pelo destinatário das cartas, quem as recebeu e dois possíveis interlocutores reais, uma mulher e um homem (interlocutores reais). Isto é, os “eus” e os “tus” de Flores Azuis são ora ficcionais, ora reais.
Outro aspecto da natureza social é o texto fingir a realidade através do discurso metalinguístico, tendo assim o conteúdo um “efeito de real” como disse Barthes (1988). Observe o trecho abaixo, quando “A” se dirige ao ex. namorado:
Talvez você pense isso, que eu seria capaz de construir as mais variadas tramas, as mais