Fime Tempos Modernos
“Nos primeiros séculos da colonização, a organização familiar e a vida doméstica não poderiam deixar de ser influenciadas por alguns dos elementos que marcaram profundamente a formação da sociedade brasileira e o modo de vida dos seus habitantes. A distância da metrópole – que dividia muitas vezes os membros de uma família entre os dois lados do Atlântico-, a falta de mulheres brancas, a presença da escravidão negra e indígena , a constante expansão do território, assim como a precariedade de recursos e toda sorte de produtos com os quais estavam acostumados os colonos no seu dia a dia, são apenas alguns dos componentes que levaram a transformações de práticas e costumes solidamente constituídos no reino, tanto no que se refere à constituição das famílias como aos padrões de moradia, alimentação e hábitos domésticos.
Além disso, o caráter de uma sociedade estratificada, na qual a condição legal e racial dividia os indivíduos entre brancos e negros, livres e escravos, dificulta a tentativa de buscarmos de norte a sul do país, no mundo urbano e rural e ao longo de quase quatro séculos, padrões semelhantes de vida e de organização familiar, até mesmo no interior de uma determinada camada da população.
Tratar, pis, da vida doméstica na colo seu sentido mais estrito, implica penetrar no âmbito do domicílio, pois ele foi de fato o espaço de convivência da intimidade. Domicílios de vários tipos, é certo, temporal e regionalmente delimitados, habitados por indivíduos de origens diferentes, dos quais, porém, existem fontes que nos permitem vislumbrar e escutar, embora de modo ocasional e pontual. Nem sempre é possível captar nos documentos se a informação se refere a uma família ou ainda a determinado tipo de organização familiar. Os dados sobre a vida doméstica, recolhidos em inventários e testamentos, escritos de cronistas e viajantes, correspondências e devassas, tampouco informam se no momento da partilha dos bens, ou do registro da