Você consegue lembrar alguma questão, alguma dúvida para a qual nunca conseguiu uma boa resposta? Qual seria? Quais são as respostas mais comuns a essa questão? Por que para vocês as respostas não são satisfatórias? É nos momentos críticos de quebra e estranhamento que costumam surgir dúvidas sobre temas fundamentais e permanentes da existência humana, dos quais trata a filosofia. Isso significa que nem todo tipo de dúvida é filosófico. Por exemplo: "Quem será o campeão brasileiro de futebol deste ano?" não é uma dúvida filosófica, e sim uma simples especulação sobre algo que está para acontecer, por mais angustiado que se sinta o torcedor com essa questão. Pode ser um bom exercício teórico discutir com colegas ou especialistas as possibilidades de seu time do coração em comparação com as de outros, para saber suas opiniões. Mas a resposta a esse tipo de dúvida virá da prórpia sucessão dos acontecimentos (ou jogos) ao longo do tempo (ou do campeonato), tornando-se um fato inesquecível. A dúvida filosófica propriamente dita surge de uma necessidade inquietante de explicação racional para algo da existência humana que se tornou incompreensível ou cuja compreensão existente não satisfaz. Geralmente são temas para os quais não há resposta única ou para os quais a mente humana sempre retorna. Por exemplo, quem já não se fez, mesmo intimamente, a pergunta "Por que tanta maldade?" ao saber de mais uma das atrocidades, aparentemente inexplicáveis, de que alguns seres humanos (ou desumanos) são capazes? Tal questão conduz a outras, mais básicas e fundamentais, como "O que é o mal?", "O que é o ser humano?", "É da essência do ser humano ser mal?", "É da essência do ser humano ser bom?" etc. A dúvida verdadeiramente filosófica é aquela que favorece, portanto, o exercício fecundo da inteligência, do espírito, da razão sobre questões teóricas importantes para todos nós (e que costumam ter uma incidência prática enorme em nossas vidas, sem que nos demos conta