filosofia
Descartes e Leiniz sao, na historia da filosofia, casos por excelencia em que com apoio numa concepcao de Deus se caracteriza o espirito humano e o conhecimento humano. E caracteriza-se de formas muito diferentes entre si. A nocao leibniziana de ‘mundos possiveis’ e uma pista para compreender este contraste. G. W. Leibniz (1646-1716) foi um dos ultimos espiritos universais da historia do pensamento, um homem que nao apenas dominou o conhecimento da sua epoca, como foi inovador em diversos campos, desde a matematica50 a geologia e ao estudo da linguagem – no entanto ele e, por varias razoes (uma delas sendo certamente a forma de falar de Deus) pouco acessivel intuitivamente aos leitores contemporaneos.
Talvez valha a pena recordar, assim sendo, aquilo que Bertrand Russell, numa famosa obra sobre o pensamento de Leibniz, A Critical Exposition of the Philosophy of Leibniz (1900) afirmou sobre Leibniz, mais especificamente sobre a Monadologia51, que tao estranha pode parecer aos leitores
50 Leibniz foi um dos criadores do cálculo infinitesimal. Houve aliás uma disputa ácida acerca da prioridade de
Leibniz ou de Newton na criação do cálculo e Leibniz foi maltratado pela Royal Society inglesa. Pensa-se hoje que Leibniz e Newton teriam criado o cálculo independentemente.
51 Obra escrita por Leibniz em 1714, em que ele expõe o seu sistema metafísico a partir da noção de mónada.
As mónadas são substâncias simples e imateriais, criadas, que ‘não nascem nem morrem’. Este sistema metafísico imaterialista foi em parte despoletado pela crença de Leibniz na inexistência de átomos – i.e. simples – físicos. Tudo aquilo que há são mónadas. As mónadas têm percepções e apetições e cada uma delas exprime todo o universo. No nosso caso, a mónada-alma tem também apercepção ou consciência.
A percepção é o estado interno da mónada representando coisas exteriores, a apercepção é a consciência ou conhecimento reflexivo deste