Filosofia
Sócrates é um dos fundadores da ética, entendida como filosofia moral, na medida em que consolidou a noção de que existe uma vinculação necessária entre
Justiça e Razão. A Justiça, assim como a Verdade e a Beleza, pode ser conhecida por nós, e conhecê-la é um requisito necessário para que possamos distinguir o justo do injusto. Essa tese domina os debates acerca da filosofia prática desde a época grega, e não seria exagerado afirmar que ela define a própria possibilidade da Ética, ou seja, de um discurso filosófico que toma o Bem como um objeto a ser conhecido.
Esclarecer o Bem, definir sua natureza, determinar seus limites, revelar seus fundamentos: essas são as questões em torno das quais os filósofos morais se debatem. No livro I da República, começa um diálogo sobre a justiça, em que Sócrates debate com Polemarco acerca de se a justiça é “restituir a cada um o que se deve”.
Sócrates desconstrói essa ideia, mostrando que ela de fato significa a de “restituir a cada um o que lhe convém”(332a) e que isso facilmente se converte em “auxiliar os amigos e prejudicar os inimigos” (334b), mas que “fazer o mal não é a ação do homem justo, quer seja a um amigo, quer a qualquer outra pessoa” (335d), pois “em caso algum nos pareceu que fosse justo fazer mal a alguém” (335e). Nesse ponto do diálogo, Trasímaco intervém no debate, criticando a posição de Sócrates e o afirmando: Se na verdade queres saber o que é a justiça, não te limites a interrogar nem procures a celebridade a refutar quem te responde, reconhecendo que é mais fácil perguntar do que dar a réplica. Mas responde tu mesmo e diz o que entendes por justiça. (336c)
Sócrates então sugere que não tem forças para tanto, ao que Trasímaco responde ironicamente dizendo: “Eu bem o sabia, e tinha prevenido os que aqui estão de que havias de te esquivar a responder, que te fingirias ignorante” (337a).
Depois de um breve embate, Trasímaco termina por