Filosofia
Para melhor compreender a discussão, vale ler o primeiro texto sobre o assunto. Veja bem, vale, mas não é obrigatório - Ser feliz e fazer feliz: uma ética livre de deuses categóricos e homens egoístas
Continuando nossa discussão acerca do utilitarismo, trago, hoje, o trabalho de um filósofo utilitarista e contemporâneo: Peter Singer. O trabalho de Singer concentra-se na questão da ética aplicada em problemas de grandes proporções para a humanidade. Na próxima semana, veremos como ele aplica seu utilitarismo em uma questão bastante polêmica. Antes disso, proponho uma questão de meta-ética. Trata-se da resposta de Singer à seguinte pergunta, sempre desconcertante: por que devemos agir moralmente?
Meta-ética, porque fala sobre a ética. Não se pressupõe o desejo de buscar uma atitude ética, mas questiona-se justamente por que deveríamos fazer isso. A resposta de Singer a essa questão é curiosa e, penso eu, merecedora de discussão.
Basicamente, Singer diz que, para convencer alguém a agir moralmente, é preciso convencer essa pessoa de que uma atitude ética servirá aos seus interesses, nem que seja a longo prazo. O egoísmo puro nas próprias ações é perfeitamente racional, e uma pessoa que não tenha dentro de si aquele nobre sentimento de dever que Stuart Mill já ressaltava, não irá agir moralmente se não lhe derem uma razão que mostre essa ação como favorável a ela.
Essa é uma das formas mais criticadas de justificar a conduta moral. Quem vê na ética uma atitude pura, desinteressada, com fim em si mesma, rejeita isso com fervor. Agir eticamente seria algo que se faz sem nenhum interesse mesquinho, algo que se faz apenas porque é certo. Se alguém agir por interesses próprios, não agirá moralmente, agirá egoisticamente, e só. A moral não comporta esse tipo de conduta, dizem os opositores.
Todavia, Singer pensa que esse tipo de pensamento é errôneo, uma concepção ética deturpada. Nas palavras dele, “a ética é um produto social que tem a função de