Violências e dilemas do controle social nas sociedades da "modernidade tardia"
A violência difusa é o tema discutido nesse artigo. Mas o que é a violência difusa? É um processo social diferente do crime, caracterizado pela consciência coletiva da criminalidade e seus efeitos. A sociedade institui essa violência difusa como norma social, ainda que polêmica e controversa. Vemos pessoas discursando sobre a falta de segurança, se dizem reféns de bandidos, mas não praticam ação contra essa violência.
Entre os conflitos sociais atuais, crescem os fenômenos da violência difusa e as dificuldades das sociedades e dos Estados em enfrentá-los. Tal dificuldade expressa os novos limites da formação política da "modernidade tardia", pois os laços de interação social são orientados por modos violentos de sociabilidade. As raízes sociais desses atos de violência difusa parecem localizar-se nos processos de fragmentação social, os quais refletem a falta de formação dos princípios da solidariedade e a falta de concepção dos direitos sociais.
Em outras palavras, estamos diante de processos de massificação paralelos a processos de individualização. Ou seja, estamos vivendo em massa, mas desenvolvendo o individualismo, acelerado e intensificado pela globalização. Esta é uma das facetas da lógica cultural do capitalismo avançado: a pluralidade, a descontinuidade, a dispersão. Vê-se, desta forma, uma inquietação que estava presente nos primeiros sociólogos: “O projeto sociológico nasceu de uma inquietude sobre a capacidade de integração nas sociedades modernas: como estabelecer ou restaurar os laços sociais em sociedades fundadas na soberania do indivíduo?” (Schnapper, 1998:15). Rompe-se a consciência coletiva da integração social, um "declínio dos valores coletivos e com o crescimento de uma sociedade extremamente individualista" (Hobsbawm, 2000:136).
Com isso, vemos a crise da família. As funções sociais desta unidade social — assegurar a reprodução da espécie, realizar a