FILOSOFIA E DIREITO.
ROBERTO ROMANO *
RESUMO: O autor, que ensina ética e filosofia política, deseja com este artigo indicar o perigo da inflação de palavras como “ética” e “moral” no vocabulário de nossos dias. Ele considera que o desgaste de tais termos, o seu uso indiscreto e indiscriminado, apenas auxilia o niilismo dos valores que domina a sociedade moderna. Como exercício para uma retomada dos conceitos na sua ordem própria, apresenta uma tradução do verbete, apresentado na Enciclopédia de Diderot e D´Alembert, sobre a ciência moral. Ali, são dadas as bases filosóficas do conceito, desde a antigüidade até os tempos modernos. A leitura do verbete pode ajudar no estabelecimento de padrões mais definidos sobre a moral, a ética e os valores que definem os direitos e deveres sociais, o que é relevante para a educação.
Palavras-chave: Ética; Moral; Filosofia Antiga; Filosofia das Luzes; Direito; Estado.
Sofremos uma violenta inflação do termo “ética”. O fato é sombrio. Quando o público e os especialistas falam em demasia sobre um valor ou uma doutrina, tais elementos certamente estão sendo veiculados sem crítica. No Brasil e no mundo, as teses mais contraditórias entre si sobre ética e moral, as propostas menos claras, ocupam a imprensa e os setores políticos. A Universidade não escapa dessa maré montante de palavras vazias que encobrem práticas perfeitamente imorais e opostas à ética. De um lado, notamos o uso sem peias de uma forma complexa de pensamento, uma das mais difíceis dentre as produzidas pelo saber filosófico. De outro, presenciamos, nos discursos dirigidos ao público, a negação da moral como fundamento da sociedade e da vida política. Os dois fenômenos são aspectos da mesma experiência humana, e seu nome foi dado por Niezstche: niilismo dos valores. *
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Professor titular de Filosofia Política e Ética na Unicamp. E-mail: romanor@uol.com.br
Educação & Sociedade, ano XXII, no 76, Outubro/2001
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